miércoles, 19 de julio de 2017

2017 - AQUI É O FIM DO MUNDO




… 
A bomba explode lá fora
E agora, o que vou temer?
Oh, yes, nós temos banana
Até pra dar e vender
Olelê, lalá

Aquí é o fim do mundo
Aquí é o fim do mundo
Aquí é o fim do mundo

MARGINÁLIA 2
Letra: Torquato Neto
Música: Gilberto Gil
1967



2/6/2017, Tropicália 50 anos - Conexão - Canal Futura
Márcio Rezende entrevista: Rafael Zincone mestre em Comunicação Social, Marcelo Machado, cineasta e Tyaro Maia, artista e fundador do bloco Agytoê 





Tropicália é tema de dissertação e livro de Rafael Zincone

Livro sai em agosto e dissertação já está disponível no site do PPGMC

50 anos de Tropicália: reflexões sobre arte, mídia, política e cotidiano

Dissertação de Rafael Zincone, mestre em Comunicação Social recém-formado pelo PPGMC, discute o conteúdo político da Tropicália a partir de sua inserção em programas de televisão e da temática da vida cotidiana brasileira do final dos anos 1960

“A alegoria do Brasil do absurdo, trazida pelo Tropicalismo, se tornou parte da história brasileira”, destaca a profª Maria Malta, do Inst. De Economia da UFRJ, na “orelha” do livro de Zincone.

O ano é duplamente emblemático para Rafael Zincone: a pesquisa que desenvolveu como trabalho de conclusão do curso em Economia vem à público, agora em agosto, com o título Aqui é o Fim do Mundo: Tropicália e desenvolvimento dependente no Brasil (ED GZ) e ele acaba de se tornar Mestre em Mídia e Cotidiano com dissertação que também foca a Tropicália e cujo título é Parabolicamará: tropicália e a politização do cotidiano na TV. Apesar de não ter planejado, a comemoração dupla pode ser considerada tripla já que ele, como muitos brasileiros, tem participado de vários eventos que estão justamente celebrando os 50 anos da Tropicália.

Mas, como lembra Zincone, se é praticamente impossível falar sobre este movimento musical e cultural que marcou o Brasil sem lembrar de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé e Os Mutantes – assim como de outros tantos artistas e intelectuais da época como, por exemplo, Rogério Duarte, Torquato Neto, Rogério Duprat e Hélio Oiticica, “não podemos pensar a Tropicália sem ter em mente a economia de seu tempo e a indústria cultural de seu tempo no Brasil e no mundo”. Assim, partindo do referencial metodológico da Economia Política da Comunicação e da Cultura, o autor analisa a Tropicália, em sua dissertação de Mestrado, enquanto expressão cultural-midiática tratando de discutir sobre “o posicionamento político dos tropicalistas, tendo em vista sua integração nas estruturas da indústria cultural brasileira, especialmente a televisão, e o contexto político-social do regime autoritário da época”.

Deste modo, preocupado “em ler a dinâmica interna de um movimento midiático” a pesquisa de Zincone vai além dos aspectos estéticos/artísticos do “tropicalismo musical” e procura remontar (e problematizar) o contexto histórico em que surge a Tropicália, entendendo que “o tropicalismo, principalmente a partir da televisão, atuaria politicamente em questões cotidianas e da vida privada”. Por isso mesmo, sua pesquisa, orientada pelo professor Marco Schneider no PPG Mídia e Cotidiano, passa por diversos temas e discussões que marcaram a época. De questões, digamos, estruturais como o desenvolvimento econômico e o processo de “modernização” do Brasil, a popularização da TV no país, a ditadura militar e o AI-5, até questões mais específicas (e não menos importantes) como a organização dos primeiros festivais de música brasileira, a relação dos artistas com o público de massa e com a TV como novo formato e linguagem, e as tensões e conflitos próprios da integração com a Indústria Cultural, entre ser “cultura de massas, e mexer com ela”.

Por fim, além de “contribuir com o debate a respeito do caráter político da Tropicália sob a perspectiva da Comunicação Social”, a pesquisa de Zincone dialoga com o debate político brasileiro atual pois, interpretando a história como espiral, é possível “não estranhar a atualidade de problemas aparentemente datados e, portanto, não exclusivos dos anos de 1967 e 1968”. Segundo o autor, nos dias de hoje “quando observamos a negação do Estado democrático de Direito e, consequentemente, problemas na órbita da democratização da mídia e da produção cultural, tratamos de desafios ainda não superados”.






Dissertação de mestrado

Parabolicamará: tropicália e a politização do cotidiano na TV

RAFAEL GIURUMAGLIA ZINCONE BRAGA

13 de junho 2017

Resumen :

Esta dissertação tem como foco o movimento midiático-cultural tropicalista ocorrido no Brasil entre os anos de 1967 e 1968 e protagonizado por Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Tom Zé e pela banda de rock paulista Os Mutantes. O objetivo principal deste trabalho é contribuir com o debate a respeito do caráter político da Tropicália, sob a perspectiva da Comunicação Social. Trata-se de discutir o posicionamento político dos tropicalistas, tendo em vista sua integração nas estruturas da indústria cultural brasileira, especialmente a televisão, e o contexto político-social do regime autoritário da época. Especificamente, busca-se compreender o sentido político da narrativa tropicalista, considerando a temática da vida cotidiana brasileira do final dos anos 1960. Estaríamos de fato falando de uma contra hegemonia ou de mais uma forma de neutralização de conflitos políticos e contradições sociais? Para fins de alcance do objeto proposto, o principal referencial metodológico desta pesquisa é a Economia Política da Comunicação e da Cultura. A Tropicália enquanto expressão cultural-midiática será um objeto de estudo articulado com os elementos políticos e econômicos de seu contexto histórico.



Palavras-chave: Tropicália; contra hegemonia; indústria cultural; televisão; cotidiano.


Orientador: Prof. Dr. Marco André Feldmann Schneider











1968
Revista Realidade
Ano III - n° 33
Dezembro
Editora Abril

Páginas 186-198

O título desta reportagem é alusão à música "Acontece que eu sou baiano", do compositor Dorival Caymmi.




"Eu e Gil estávamos fervilhando de novas idéias. Havíamos passado um bom tempo tentando aprender a gramática da nova linguagem que usaríamos, e queríamos testar nossas idéias, junto ao público. Trabalhávamos noite adentro, juntamente com Torquato Neto, Gal, Rogério Duprat e outros. Ao mesmo tempo, mantínhamos contato com artistas de outros campos, como Glauber Rocha, José Celso Martinez, Hélio Oiticica e Rubens Gerchmann. Dessa mistura toda nasceu o tropicalismo, essa tentativa de superar nosso subdesenvolvimento partindo exatamente de elemento “cafona” da nossa cultura, fundindo ao que houvesse de mais avançado industrialmente, como as guitarras e as roupas de plástico. Não posso negar o que já li, nem posso esquecer onde vivo."




Reportagem escrita a partir de entrevista com Caetano Veloso

Traz um perfil biográfico e profissional do compositor baiano, além de suas impressões sobre a cultura brasileira desde a virada dos anos 1950 para os 1960. O período é considerado por Décio Bar como o auge de um "ufanismo que se infiltrara nos poros da consciência nacional" e, sobre isso, Caetano menciona o purismo nacionalista que rechaçou a aproximação do tropicalismo com a cultura euro-norte-americana. 

O texto narra episódios relacionados ao show Opinião (1965) - que inspirou a exposição homônima no MAM-RJ, no mesmo ano -, a programas de TV e festivais de música da época. 

As declarações de Caetano Veloso reproduzidas aqui definem algumas idéias norteadoras do tropicalismo, entre elas, a de conferir um tratamento moderno ao que havia de mais tradicional na cultura brasileira. 

O compositor descreve, ainda, os encontros e as discussões travadas entre ele, o colega Gilberto Gil, a cantora Gal Costa, o poeta Torquato Neto, o maestro Rogério Duprat, o cineasta Glauber Rocha, o encenador José Celso Martinez Corrêa e os artistas Hélio Oiticica - autor do trabalho "Tropicália", cujo título Caetano emprestou para o nome de sua canção-manifesto - e Rubens Gerchman - cuja obra "Lindonéia" também inspirou música homônima de Caetano.


Antropofagia
Décio Bar

Quando Roberto Carlos mostrou que viera para ficar, percebeu-se que os Beatles eram muito mais do que um grupo de jovens com grande antipatia pelos barbeiros. As coisas passaram a acontecer com tal rapidez que mesmo o comodismo petrificado de certos ambientes culturais brasileiros começou a ser abalado.

No Brasil, foram os cineastas e pintores os primeiros a assimilar os novos rumos artísticos que eclodiam, ao mesmo tempo, pelo mundo. As exposições Opinião, no Rio de Janeiro, e Propostas 66, em São Paulo, vieram confirmar a impressão deixada pela Bienal de 1965. Ligando-se à vanguarda mundial, o artista brasileiro valia-se de toda a liberdade oferecida pelas colagens, montagens, pelos equipamentos sonoros e luminosos para fazer o levantamento da cultura moderna. Havia quase meio século, o futurismo, o dadaísmo e o surrealismo já procuravam entender esse universo. Dessas sementes plantadas na Itália, na Alemanha, na França, brotariam frutos híbridos no Brasil.

Até então (pela dificuldade de um contato mais direto com seus resultados), a Semana de Arte Moderna de 1922 se resumia a um vago item nos currículos escolares. Para o estudante médio, ela parecia ter sido uma série de banquetes agitados, onde se celebrava a desdita do Bispo Sardinha – devorado pelos índios em 1554. Muitos atribuíam sua organização aos “irmãos” Andrade e as novas gerações não se interessaram por tal movimento.

Até que, em 1967, o Teatro Oficina levou à cena O Rei da Vela, de Oswald de Andrade, com direção de José Celso Martinez Corrêa. Daí em diante, uma porção de gente passaria a entender muita coisa; outros, a não entender mais nada. Primeiro, ficava-se sabendo que, apesar do sobrenome, não havia parentesco entre Oswald e Mário de Andrade. Segundo, descobriu-se que uma peça escrita em 1933 inquietava mais que todo teatro “engajado” da época.

Todo material teatral de Oswald é colhido em nosso modo de vida, sendo reelaborado com uma insolência particular. Zé Celso, com imagens vivas, levou esse espírito a seus limites: circo, Chacrinha, chanchada da Atlântida. Tratava-se de uma tentativa de captar criticamente o gosto das grandes massas brasileiras e, com ele, o verdadeiro espírito da cultura criada no trópico.

Na platéia, um espectador particularmente deslumbrado: Caetano Veloso, que, uma semana antes, havia composto “Tropicália”, inspirado em uma instalação de Hélio Oiticica. Na música e na peça, a nova realidade brasileira era jogada em contraponto com os valores tradicionais do gosto popular. Caetano diria depois que dividia sua obra em antes e depois de ter visto O Rei da Vela.
Zé Celso, por sua vez, encantou-se com o intercâmbio: “Fui violentamente influenciado pelo filme Terra em Transe, de Glauber Rocha. Agora, Caetano se diz influenciado pelo meu espetáculo. Tenho certeza de que nossa geração vai começar a criar algo de novo”.

Terra em Transe, feito em 1966, trata da política violenta, corrupta e contraditória de um país latino-americano imaginário, Eldorado, onde vigora uma mistura de fascismo místico, populismo barato e romantismo revolucionário. Glauber Rocha se perguntava o que era ou não era de bom gosto. Entre uma usina hidrelétrica e o luar do sertão, não há dúvida – fica-se com os dois.

Se O Rei da Vela abriu para Caetano uma nova visão, para Gilberto Gil houve outra fonte de confirmação. E, novamente, uma montagem teatral, A Cantora Careca, de Eugène Ionesco, dirigida por Líbero Ripoli Filho. Na montagem, Líbero cortava pedaços, intercalava seqüências de comercias de TV e, ao final, trancava as portas do teatro para um debate. Então, representava a peça de novo, explicando cada detalhe. Gil ficou surpreso.

Outra referência que não pode faltar toda vez que se fala de tropicalismo é Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Enquanto os animadores de programas de auditório são sempre bem-comportados, Chacrinha faz exatamente o contrário: é malcriado, chama o auditório de “macacada” e, não raro, manda-o “para as profundas do inferno”. Veste-se com fantasias espalhafatosas, distribui legumes. 

O povo o adora. E os jovens artistas tropicalistas o tomam como a expressão direta, em estado bruto, da verdadeira sensibilidade estética do povo brasileiro.
“Sou tropicalista desde 1946”, disse Chacrinha. “Admiro muito Caetano, Gil, os Mutantes. Mas eles todos me imitam.” Para Chacrinha, como para uma boa parcela da opinião pública, o tropicalismo é apenas uma maneira de se fantasiar. As atividades paralelas de Glauber Rocha, Zé Celso, Líbero Ripoli e outros lhe escapam totalmente. A relação entre o artista e o público nunca o preocupou – é que Chacrinha domina o auditório. Este, aliás, é o aspecto que mais interessa a Rogério Duprat. O maestro é, fundamentalmente, um intelectual comprometido com a destruição de todos os valores tradicionais.

“O que importa hoje, na música, é o que acontece quando ela é executada”, garante Duprat. “Não queremos mais a tal da Arte. Hoje ela deixou de ser um objeto do artista e passou a ser um resultado coletivo. Todo mundo cria. O que importa é o acontecimento. Assim, no single É Proibido Proibir, acho que o lado mais importante do disco é aquele gravado ao vivo, com as vaias do público e o discurso de Caetano.”

Duprat considera a música como algo já esgotado. Tudo já foi feito, qualquer sofisticação melódica, rítmica ou harmônica é inútil. “Por isso, a música de Gil ‘Questão de Ordem’, desclassificada no festival, em São Paulo, era propositalmente antimusical. O que interessava era o acontecimento. E, se não quiserem chamar isso de música, então chamem a polícia…”

O maior contato entre o tropicalismo e a jovem guarda foi estabelecido por Gal Costa. Sempre que pode, ela aparece nos programas de Roberto Carlos. A cantora recusa-se a aceitar a hipótese de um abismo entre os dois movimentos. 

Ao contrário, entende o iê-iê-iê como uma ponte sem a qual a música brasileira ou nunca sairia do “Barquinho” ou se deteria no “barraco cuja porta era sem trinco”. “Independentemente de sua importância histórica, acho o Roberto genial. Não foi sem razão que o Duprat colocou uns acordes de ‘Nossa Canção’ em ‘Baby’. Tropicalismo é gostar das coisas sem medo.

Enquanto a jovem guarda foi dissecada por sociólogos e psicólogos, o tropicalismo atraiu a atenção dos poetas concretistas Augusto de Campos e Décio Pignatari, seus maiores divulgadores. Augusto vê no movimento uma continuidade, mas não linear, do ciclo aberto por João Gilberto: “Eles deglutem, antropofagicamente, a informação do maior inovador da bossa nova. E voltam a por em xeque e choque toda a tradição musical brasileira, a bossa nova inclusive, em confronto com os novos dados do contexto universal”.

A todo instante o tropicalismo se refaz e se transforma, deixando um rastro de interrogações. A agitação dos críticos que se atiram à tentativa de resolver esse enigma contrasta com a tranqüilidade dos próprios tropicalistas. Para eles, a tranqüilidade é resultado da confiança que têm em seu trabalho e que pode ser resumida numa frase de Capinam: “De tanto ver triunfar as nulidades, hei de vencer!”

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